Os três anjos do Amalfitani
Eles estavam lá no alto cumprindo
suas missões. O emissário chegou com ordens expressas de viagem. Donana
teve que encerrar a pintura das unhas, no preto e branco tradicional da
primeira torcedora símbolo da Ponte Preta. Renato Silva parou de tentar
descobrir como bom repórter, quem ditava as psicografias. E meu pai deu
um tempo no trabalho de força que sempre faz. Desceram rápido. Chegaram
sem saber exatamente o que acontecia. A readaptação à Terra foi rápida.
Só não entendiam porque estavam na Argentina, onde nunca tinham passado
nos tempos de vida. Aí viram a Ponte Preta entrando em campo. Nem
acreditaram. O que fazia a Nega Véia naquele lugar. Mas a missão tinha
que ser cumprida. Donana instalou-se atrás do gol de Roberto e começou a
rezar. Meu pai ficou ao lado do goleiro, dando reforço nas defesas e
até soprando bolas para o lado, como aquela que o Cesar quase fez
contra. Renato Silva, sempre gozador, cuidou de amolecer os pés dos
atacantes adversários. E foi o que se viu. Poucos notaram os três anjos
vagando pelo campo do Velez. Eu percebi logo e me emocionei. Sabia que a
noite seria inesquecível. Veio o gol do Elias, no lance do Rildo e o
chapéu no minuto final com gol do Fernando Bob. Donana caiu de joelhos e
lá ficou. Meu pai olhava atrás do gol procurando algum amigo dos anos
60, entre os pontepretanos. E Renato Silva chorava emocionado, ouvindo o
hino que ele compôs, encobrindo os gritos dos argentinos. Minhas mãos e
pernas tremeram o tempo todo. Quando as luzes começavam a se apagar,
foram chamados de volta. Este retorno de 90 minutos à vida fora um
prêmio. Eles tinham que estar lá na noite mágica. E voltaram para os
seus lugares lá em cima, repletos de felicidade.
Flavio Prado
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